Você compraria uma empresa que tem um elevado grau de endividamento? Ou seja, que tem muitas dívidas no momento? Se acha que a resposta óbvia é “não”, saiba que você está errado. Afinal, saber interpretar um Índice de Endividamento pode oferecer muitas oportunidades lucrativas para você.
Todo empreendedor sabe que é comum que uma empresa tenha dívidas. Mais do que comum: é esperado e recomendado para alimentar seu crescimento. Não à toa, nos últimos 10 anos a dívida das companhias no Brasil subiu 50% e alcançou o valor de R$1,2 trilhão.
Mas quando a dívida de um negócio fica positiva ou negativa? Isso dependerá o seu grau de endividamento.
Para medir isso, você precisa saber o que é um Índice de Endividamento, quais os tipos que existem e como usá-los em sua análise.
Siga a leitura para saber mais sobre o assunto!
O que é grau de endividamento?
Apesar do termo “dívida” ser constantemente atrelado a algo negativo, a verdade é que se endividar é algo parão para uma empresa ativa no mercado.
Uma dívida é, explicando de maneira mais simplificada, todo capital de terceiros ou empréstimos bancários que uma empresa acessou. Esses recursos podem ter sido utilizados para investir no crescimento do negócio ou pagar outras obrigações. No entanto, após a utilização dos recursos, eles se tornam obrigações exigíveis que a empresa deve quitar eventualmente.
Portanto, na teoria, uma dívida não é necessariamente ruim. É comum que o termo seja usado como sinônimo de “inadimplência” (ou seja, uma dívida que não é paga), mas se endividar é antecipar recursos que só existiriam no futuro.
No entanto, quando uma dívida deixa de ser uma ferramenta comum para o crescimento de uma empresa e passa a ser um problema? Essa é fácil: quando o grau de endividamento do negócio ultrapassa limites saudáveis.
Mais especificamente, quando o crescimento do grau de endividamento de um negócio acontece de maneira mais rápida do que a geração de recursos e de faturamento oriundos dessas dívidas.
Explicando de maneira mais sucinta: o problema está quando se endivida demais e a dívida não é usada para alavancar a capacidade da empresa de aumentar seu faturamento. Seja por uma capacidade maior de produção, seja por aumento da eficácia que aumenta as margens, etc.
E como podemos medir esse nível? A começar por calcular o Índice de Endividamento de uma empresa.
O que é índice de endividamento e como calculá-lo?
O Índice de Endividamento de uma empresa é a métrica que mede a dimensão da dívida que um negócio tem em relação ao seu total de ativos. Ou seja, compara qual é a porcentagem de ativos que corresponde à dívida.
Por isso, usamos a seguinte fórmula para calcular o Índice de Endividamento:
- Índice de Endividamento = Capital de Terceiros / Total de Ativos
Vejamos um exemplo simples que mostra como fazer esse cálculo no dia a dia. Suponha que você vai comprar uma empresa de Marketing.
Atualmente, essa agência pegou um empréstimo de R$500 mil para desenvolver um software próprio, que reduzirá em 35% os gastos mensais do negócio no longo prazo.
Ao todo, considerando todos os ativos da empresa (seus bens e direitos), a agência tem um patrimônio de R$2,5 milhões. Nesse caso, qual o seu Índice de Endividamento?
Colocando os dados na fórmula, teríamos:
- Índice de Endividamento = 500.000 / 2.500.000
- Índice de Endividamento = 0,2 ou 20%.
Ou seja: 20% dos ativos da empresa está “comprometido” com o pagamento dessa dívida.
Como considerar o índice de endividamento ao avaliar uma empresa para comprar?
Agora que você já sabe o é o Índice de Endividamento e como calculá-lo, já pode começar a usá-lo ao avaliar empresas. Isso vale tanto na hora de comprar um negócio, quanto ao vendê-lo.
A tendência de muitos investidores e empresários é considerar que uma empresa com um alto grau de endividamento é, portanto, um negócio “ruim”. No entanto, isso não é necessariamente verdade.
Como vimos anteriormente, uma dívida pode ser uma ferramenta para um negócio crescer. Por isso, o primeiro passo ao analisar o grau de endividamento de uma empresa é ver a natureza da dívida.
Comece analisando qual é o tipo de dívida que a empresa adquiriu e como os recursos foram aplicados. Afinal, só ler o Índice de Endividamento não apresenta essa visão completa.
Por exemplo, uma dívida adquirida para fazer um investimento na empresa que trará resultados financeiros positivos é um bom endividamento. Se os recursos se traduzirão em melhores margens ou maior capacidade de faturamento, então foram recursos bem aplicados.
No entanto, se a dívida foi adquirida para pagar obrigações financeiras (ou outras dívidas), então temos um mau sinal. Afinal, seria uma dívida que não geraria contrapartidas positivas para o negócio.
Além de entender qual a natureza da dívida, também devemos considerar o tamanho do Índice de Endividamento. Isso é especialmente importante para considerar a capacidade do negócio de lidar com esses compromissos.
O faturamento anual da empresa é o suficiente para lidar com sua dívida? Será que a companhia ficará presa, sem ter recursos para arcar com os compromissos?
Além disso, é importante considerar qual é o prazo da dívida. Ela é de curto ou longo prazo? Precisa ser paga em menos de um ano? Ou há uma margem de manobra maior?
No entanto, como você pode avaliar esses fatores ao analisar o Índice de Endividamento de um negócio? Para isso, precisaremos das métricas que vamos aprender a seguir!
Outras métricas para medir o índice de endividamento
Para medir melhor o grau de endividamento de uma empresa e fazer uma boa leitura disso, é necessário ter outras métricas a sua disposição. Afinal, só o Índice de Endividamento não consegue mostrar um retrato total da situação.
Veja a seguir outras métricas que você deve incorporar em sua análise:
Leia também:
- Índices de Liquidez: entenda em 5 minutos o que isso diz da sua empresa
- Cálculo Wacc: como fazer e para que serve?
Composição do Endividamento
Esta métrica mostra qual é a proporção de compromissos de curto prazo que a empresa precisa pagar. Ou seja, mede se a empresa terá de pagar uma grande parte da sua dívida em pouco tempo.
Isso é feito ao dividir a relação entre o passivo circulante (que é a dívida de curto prazo) e o passivo não circulante (que é de longo prazo). Portanto, sua fórmula é:
- Composição do Endividamento = (Passivo Circulante / Passivo Total) X 100
Índice de cobertura de juros
Esta métrica mostra qual é a proporção de compromissos de curto prazo que a empresa precisa pagar. Ou seja, mede se a empresa terá de pagar uma grande parte da sua dívida em pouco tempo.
Um fator muito importante na hora de analisar o grau de endividamento de uma empresa é ver a sua capacidade de pagar os juros atrelados a esses compromissos. Isso pode ser calculado usando o Índice de Cobertura de Juros.
Como o nome indica, essa métrica apresenta o quão “coberta” a empresa está para pagar os juros dos seus contratos. A fórmula dessa métrica é:
- ICJ = EBIT / Despesas anuais com juros
O EBIT é o dado contábil que apresenta o lucro da empresa antes de descontar juros e tributos. Ou seja, mede o lucro que o negócio é capaz de produzir — antes de ter de pagar impostos e juros.
Participação de capital de terceiros
Esta métrica mede o quão dependente a empresa é do capital de terceiros em sua operação. Quanto maior o número, mais dependente é o negócio. Em alguns casos, isso pode ser bastante negativo, já que é sinal de que a empresa não consegue produzir lucro por conta própria.
No entanto, em cenários de ampla expansão e grande obtenção de crédito para crescer, é normal que a empresa tenha uma grande porcentagem de capital de terceiros. Portanto, além de ver o valor, é importante analisar a natureza dessas dívidas e sua função na organização da empresa.
Veja a fórmula para calcular a Participação de Capital de Terceiros:
- PCT = Passivo total / Ativo total.
Imobilização do patrimônio líquido
Por fim, uma métrica essencial para a análise do grau de endividamento de uma empresa é a Imobilização do patrimônio líquido (IPL). Esse indicador mostra quanto do ativo permanente de um negócio é financiado pelo seu patrimônio líquido.
A fórmula de cálculo é:
- IPL = Ativo permanente / Patrimônio Líquido.
Conclusão
Como vimos, acompanhar o Índice de Endividamento de uma empresa é essencial se você quiser comprar ou vender um negócio. Afinal, a dívida de um negócio pode colocá-la em uma posição de crescimento ou de queda.
Por isso, se você pretende comprar um negócio, deve entender que mesmo que a sua empresa “ideal” tenha dívidas, isso não significa que a operação deve se encerrar. Pelo contrário, talvez uma leitura do seu grau de endividamento possa dar mais certezas na hora de fechar a compra.
Já se você pretende vender sua empresa, olhe com atenção para o seu Índice de Endividamento. Veja se você tem uma dívida negativa ou positiva e faça ajustes para tornar seu negócio mais atrativo a compradores.
Gostou do conteúdo? Se surpreendeu em saber que uma dívida, na verdade, não é tão ruim assim? Então aprenda mais sobre outros mitos da valorização de uma empresa em nosso eBook Guia Valutech de Valuation para Pequenas e Médias Empresas!
Cofundador Valutech, especialista em valuation e entusiasta em programação.
Certificado em Advanced Valuation (ministrado por Aswath Damodaran) pela New York University (NYU), Certificado em Valuation (Avaliação de Empresas) e Análise de Investimentos pela PUCRS, Certificado em International Business e Business Administration pela Universidade da Califórnia, Irvine (UCI) e Bacharel em Administração de Empresas (Linha de Formação em Tecnologia da Informação), PUCRS.