A avaliação patrimonial é uma prática relativamente comum no cotidiano das empresas, sendo utilizada para determinar o valor dos ativos de uma empresa. Ela pode ser utilizada para diversos fins, como planejamento estratégico, questões fiscais, ou mesmo para uma eventual venda de ativos específicos.
Existem duas correntes quando falamos em avaliação patrimonial. A primeira é focada no levantamento detalhado dos ativos da empresa, sem considerar diretamente o valor global do negócio.
A segunda abordagem utiliza a avaliação patrimonial como base para realizar o valuation da empresa, ou seja, calcular seu valor de mercado com base no patrimônio que possui.
Entender essas diferenças é muito importante para escolher o método de avaliação mais adequado para as necessidades da empresa. Neste artigo, vamos falar dessas duas formas de avaliação patrimonial e discutiremos em que situações cada uma delas é mais indicada.
O que é avaliação patrimonial?
Neste artigo, trataremos a avaliação patrimonial de duas maneiras distintas, que são fundamentais para compreender o processo de valuation de uma empresa. Existem dois tipos principais de avaliação patrimonial:
- Avaliação Patrimonial para Levantamento de Ativos: Esse tipo de avaliação é utilizado quando o objetivo é fazer o levantamento detalhado do patrimônio da empresa, geralmente para fins fiscais, contábeis, ou estratégicos. Aqui, o foco está em determinar o valor dos ativos individuais, como imóveis, maquinário, e outros bens tangíveis.
- Avaliação Patrimonial para Valuation: Neste caso, a avaliação patrimonial é utilizada como base para calcular o valor total da empresa. Ou seja, o objetivo não é apenas listar os ativos, mas sim integrar esses valores em um cálculo que determinará o valor de mercado da empresa, considerando o patrimônio como um dos principais fatores.
Agora que já explicamos a diferença entre cada tipo de avaliação patrimonial, vamos detalhar o que significa cada uma dessas abordagens.
A avaliação patrimonial para levantamento de ativos é utilizada quando o objetivo principal é obter um valor preciso dos bens da empresa. Esse tipo de avaliação é comumente realizado para fins fiscais, contábeis, ou para o planejamento estratégico da empresa. O foco aqui está em determinar o valor individual de cada ativo, como imóveis, maquinário, veículos, e outros bens, sem considerar o valor total da empresa como um todo.
Por outro lado, a avaliação patrimonial para valuation tem um escopo mais amplo. Nesse caso, o objetivo é calcular o valor total da empresa, utilizando o patrimônio como um dos principais componentes desse cálculo.
Avaliação patrimonial com o intuito de precificar ativos
Avaliação patrimonial é um processo utilizado para determinar o valor de bens tangíveis e intangíveis de uma empresa, como imóveis, maquinário, veículos, e estoques, com o objetivo de obter uma estimativa mais precisa do valor desses ativos.
Esse tipo de avaliação pode ser importante em diversas situações, como fusões, aquisições, vendas de empresas, ou até mesmo para fins contábeis e fiscais.
O objetivo da avaliação patrimonial é oferecer uma visão mais clara e real do patrimônio da empresa, auxiliando na tomada de decisões estratégicas e também por conta de adequação às exigências fiscais e contábeis.
E quando falamos em bens tangíveis, podemos citar:
- Imóveis Comerciais: Inclui terrenos, edifícios e outras propriedades comerciais de posse da empresa.
- Maquinário e Equipamentos: Ferramentas, máquinas e equipamentos utilizados para a produção de bens ou prestação de serviços.
- Veículos: Carros, caminhões, vans e outros veículos utilizados nas operações da empresa.
- Móveis e Utensílios: Mobiliário de escritório, como mesas, cadeiras, armários, e outros utensílios necessários para o funcionamento da empresa.
- Computadores e Tecnologia: Hardware de TI, como servidores, computadores, impressoras e outros equipamentos tecnológicos.
- Estoque: Materiais, produtos acabados, ou mercadorias que estão à disposição para venda ou uso nas operações empresariais.
Já ativos intangíveis, podemos citar (nem todos para fins de avaliação patrimonial):
- Marcas e Patentes: Direitos de uso exclusivo de marcas, logotipos, e invenções patenteadas que diferenciam a empresa no mercado.
- Goodwill: Valor agregado relacionado à reputação da empresa, clientela leal, e outros fatores que vão além dos ativos físicos.
- Propriedade Intelectual: Inclui direitos autorais, software desenvolvido pela empresa, e segredos comerciais.
- Licenças e Concessões: Direitos adquiridos para operar em determinados setores ou regiões, ou para usar certas tecnologias.
- Base de Clientes: Valor associado ao relacionamento estabelecido com clientes, incluindo contratos de longo prazo.
Como fazer a avaliação
Para realizar uma avaliação patrimonial com o objetivo de precificar os ativos de uma empresa, é ideal contar com profissionais técnicos qualificados. Esse processo envolve a análise de todos os bens tangíveis e, por isso, deve ser conduzido por profissionais especializados, como engenheiros e arquitetos.
A avaliação patrimonial deve seguir a norma NBR 14.653 da ABNT, que estabelece os critérios e procedimentos para a execução correta dessa atividade. Profissionais registrados em conselhos como o CREA (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia) e o CAU (Conselho de Arquitetura e Urbanismo) são geralmente os responsáveis por esse tipo de avaliação.
Além disso, a Lei 5.194 de 24 de dezembro de 1966 define que apenas engenheiros e arquitetos têm a capacidade legal para realizar a avaliação patrimonial, garantindo que o processo seja realizado conforme as exigências técnicas e legais vigentes.
Abaixo fizemos uma lista resumida dos profissionais recomendados para cada tipo de avaliação:
NBR 14.653-1: Avaliação de Bens – Procedimentos Gerais
- Profissionais Necessários: Engenheiros, arquitetos, economistas, e administradores com formação e experiência em avaliações patrimoniais.
NBR 14.653-2: Avaliação de Imóveis Urbanos
- Profissionais Necessários: Engenheiros civis, arquitetos, e urbanistas. Esses profissionais são capacitados para avaliar imóveis urbanos, considerando fatores como construção, infraestrutura, e uso do solo.
NBR 14.653-3: Avaliação de Imóveis Rurais
- Profissionais Necessários: Engenheiros agrônomos, engenheiros florestais, e engenheiros civis com experiência em áreas rurais. Esses profissionais têm o conhecimento necessário para avaliar propriedades rurais, levando em conta aspectos agrícolas, topográficos, e ambientais.
NBR 14.653-4: Avaliação de Empreendimentos
- Profissionais Necessários: Engenheiros civis, engenheiros de produção, engenheiros mecânicos, arquitetos, e administradores.
NBR 14.653-5: Avaliação de Máquinas, Equipamentos, Instalações e Bens Industriais
- Profissionais Necessários: Engenheiros mecânicos, engenheiros de produção, engenheiros eletricistas, e engenheiros industriais. Esses profissionais possuem a expertise técnica para avaliar o valor de maquinário, equipamentos, e instalações industriais, considerando aspectos como obsolescência, eficiência, e estado de conservação.
Ajuste de avaliação patrimonial
O ajuste da avaliação patrimonial é o processo de atualizar ou corrigir os valores atribuídos aos bens de uma empresa durante a avaliação patrimonial. Esse ajuste é necessário para garantir que os valores refletidos nos documentos contábeis estejam em conformidade com o valor justo ou o valor de mercado dos ativos.
Os ajustes podem ser necessários por vários motivos, incluindo:
- Depreciação: Ao longo do tempo, os bens tangíveis, como maquinário e veículos, perdem valor devido ao uso e ao desgaste. O ajuste da avaliação patrimonial inclui a aplicação de depreciação para refletir a redução no valor desses ativos.
- Reavaliação de Ativos: Em certos casos, os ativos podem aumentar de valor, especialmente em cenários onde o mercado imobiliário se valoriza ou onde a demanda por certos equipamentos ou propriedades aumenta. O ajuste da avaliação patrimonial pode envolver a reavaliação desses ativos para alinhar o valor registrado com o valor de mercado atual.
- Correção Monetária: Em períodos de alta inflação, pode ser necessário ajustar o valor dos ativos para refletir as mudanças no poder de compra da moeda. Isso é feito para garantir que os valores contábeis permaneçam relevantes e precisos.
- Obsolescência: Ativos que se tornaram tecnicamente obsoletos, como equipamentos superados por novas tecnologias, podem precisar de ajustes para reduzir o valor registrado no balanço.
- Imparidade: Se um ativo tiver seu valor de mercado reduzido significativamente, um ajuste por imparidade pode ser necessário para registrar a perda de valor, alinhando o valor contábil do ativo com seu valor de mercado.
Avaliação patrimonial e o valuation da empresa
Agora, quando o assunto é calcular o valor da empresa para uma eventual negociação, por exemplo, o método do valor patrimonial pode sim ser utilizado e geralmente é indicado para algumas situações específicas.
Na maioria dos casos a avaliação patrimonial para fins de valuation é mais utilizada para calcular nas seguintes situações:
- valor de liquidação de uma empresa
- calcular o valor mínimo (piso) do negócio e comparar com outros métodos de valuation
- empresa com pouco retorno em relação aos ativos empregados
Pode fazer sentido utilizar a avaliação patrimonial para chegar no valor da empresa porque, em alguns casos, o valor de seus ativos registrados pode ser superior ao valor obtido por meio de um valuation baseado na premissa de que a empresa continuará operando, ou baseado no retorno futuro.
Em outras palavras, se uma empresa não tem boas perspectivas de crescimento ou uma margem de lucro que justifique a continuidade de suas operações, é provável que seu valor seja maior ao ser avaliado apenas com base em seus ativos patrimoniais, sem considerar as operações futuras.
Vamos então falar dos métodos de avaliação de empresas que utilizam a abordagem patrimonial: valor do patrimônio líquido contábil, valor de liquidação e valor de reposição ou de patrimônio líquido ajustado.
Valor do patrimônio líquido contábil
Esse método é relativamente simples de entender, pois o valor do patrimônio líquido contábil (ou book value em inglês) é extraído a partir dos documentos contábeis da empresa.
É bem fácil de se verificar, bastando perguntar para seu contador ou verificando você mesmo o balanço patrimonial mais recente da empresa.
Sabemos no Brasil que na realidade muitas empresas de pequeno porte não possuem um balanço patrimonial ou quando possui, não demonstra a realidade. O que se faz necessário partir para o “balanço perguntado”, para então chegar no valor do patrimônio líquido através da diferença entre o valor dos ativos e dos passivos.
Vamos agora um pequeno exemplo, extraído de outro artigo onde abordamos com maior profundidade o método do valor do patrimônio líquido contábil:
Vamos imaginar uma empresa fictícia, que possui os seguintes itens em seu balanço patrimonial:
- Ativos Totais: R$ 1.500.000
- Inclui ativos correntes (dinheiro, estoques, contas a receber) e ativos fixos (equipamentos, imóveis).
- Passivos Totais: R$ 1.200.000
- Inclui dívidas de curto e longo prazo e outras obrigações financeiras.
Para calcular o valor contábil da empresa usando o método contábil, você subtrai o total de passivos do total de ativos:
- Valor Contábil = Ativos Totais – Passivos Totais
- Valor Contábil = R$ 1.500.000 – R$ 1.200.000 = R$ 300.000
Neste exemplo, o valor contábil da empresa seria R$ 300.000.
Valor de liquidação
Já o valor de liquidação parte do pressuposto de quanto a empresa valeria se precisasse ser liquidada, ou seja, caso a empresa fosse fechar suas portas, vender todos seus bens e pagar todas suas obrigações. O valor resultante disso é o valor de liquidação.
Podemos dizer que o valor de liquidação é o valor mínimo ou o piso de uma empresa, partindo da ideia que você não venderia a empresa por um valor menor do que o valor apurado com o seu fechamento, ou de liquidação.
O método do valor de liquidação geralmente gera um valor menor para a empresa do que o método do valor do patrimônio líquido contábil pois presume-se pressa em vender em uma eventual liquidação, fazendo com que a empresa venda seus bens abaixo do preço de mercado.
Agora, vamos a um exemplo:
Ativos da Empresa:
- Imóveis: R$ 500.000
- Maquinário: R$ 200.000
- Estoque: R$ 100.000
Passivos da Empresa:
- Dívidas totais: R$ 250.000
Valor de Liquidação:
Devido à necessidade de vender os ativos rapidamente, a empresa aceita ofertas abaixo do valor de mercado:
- Imóveis vendidos por: R$ 400.000 (20% abaixo do valor de mercado)
- Maquinário vendido por: R$ 150.000 (25% abaixo do valor de mercado)
- Estoque vendido por: R$ 80.000 (20% abaixo do valor de mercado)
Total obtido com a venda dos ativos: R$ 630.000
Cálculo do Valor de Liquidação:
- Total dos Ativos Vendidos: R$ 630.000
- Menos Passivos (Dívidas Totais): R$ 250.000
- Valor Líquido de Liquidação: R$ 380.000
Explicação:
Após vender os ativos abaixo do valor de mercado devido à pressa, a empresa obtém R$ 630.000. Desse valor, R$ 250.000 são utilizados para quitar as dívidas, resultando em um valor líquido de liquidação de R$ 380.000. Este valor é menor do que o potencial valor de mercado dos ativos, destacando o impacto da venda apressada.
Valor de reposição
O valor de reposição seria a quantidade de dinheiro necessária para criar uma empresa igual a existente, excluindo o valor dos ativos intangíveis.
Pode-se dizer que é o valor pelo qual é possível adquirir os ativos de uma empresa, mais os custos de colocá-los e funcionamento de novo.
Sua finalidade é verificar os valores dos ativos necessários para o funcionamento da empresa e também levar em consideração os preços atualizados de mercado que seriam adquiridos na sua reestruturação.
Apesar de ser uma abordagem mais prática, os valores contábeis dos ativos seriam desprezados, para verificar os valores atuais e reais dos bens.
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Razões para utilizar a avaliação patrimonial no valuation da sua Empresa
A avaliação patrimonial é uma ferramenta útil para fazer o valuation de empresas, especialmente em situações específicas. Quando a empresa não apresenta um desempenho econômico muito bom, o uso do fluxo de caixa descontado, que considera o potencial futuro de geração de resultados, pode resultar em um valor inferior ao que seria obtido pela avaliação dos ativos. Nesse exemplo, a avaliação patrimonial pode proporcionar uma estimativa mais realista e elevada do valor da empresa.
Outro cenário em que demonstra a utilidade da avaliação patrimonial é na avaliação de ativos não operacionais, ou seja, bens que não estão sendo utilizados na operação e que podem ser vendidos para converter em caixa. Essa abordagem permite que a empresa aproveite ao máximo os recursos disponíveis, transformando ativos ociosos em liquidez imediata.
Além disso, quando existe o interesse em vender ativos específicos em vez do negócio como um todo, a avaliação patrimonial pode ser aplicada. Isso ocorre porque algum ativo pode não ser mais tão útil para a parte vendedora, que deseja reinvestir em outros ativos ou áreas do negócio.
No caso do método de valor de liquidação, a avaliação patrimonial é útil quando se espera que a empresa encerre suas atividades e não há interesse em manter a operação pela falta de compradores interessados. Nesse cenário, os ativos podem ser vendidos individualmente para diferentes adquirentes, proporcionando uma saída estratégica para os proprietários.
Razões para não utilizar a avaliação patrimonial no valuation
Apesar da avaliação patrimonial ser uma ferramenta útil em alguns cenários, há situações em que seu uso pode atrapalhar mais que ajudar. Uma das principais razões para evitar essa metodologia é quando o valor dos ativos da empresa não reflete seu verdadeiro potencial de geração de receitas futuras.
Em empresas com forte potencial de crescimento ou em setores inovadores, o fluxo de caixa descontado ou outras metodologias que consideram o desempenho futuro podem ser alternativas muito mais vantajosas.
Outra razão para não utilizar a avaliação patrimonial é quando os ativos estão muito depreciados ou obsoletos. Nesse caso, o valor contábil dos ativos pode não representar o valor real ou de mercado, levando a uma subavaliação da empresa.
Isso é bem relevante em indústrias tecnológicas ou em empresas inovadoras, onde o valor dos ativos tangíveis pode ser secundário em relação ao valor da propriedade intelectual, por exemplo.
Além disso, a avaliação patrimonial ignora a importância de ativos intangíveis, como marcas, patentes, e a base de clientes, que podem ter um impacto significativo no valor de uma empresa. Em negócios onde os ativos intangíveis desempenham um papel central, a utilização exclusiva da avaliação patrimonial pode resultar em uma estimativa de valor incompleta e inadequada.
Por fim, em cenários de negócios onde a continuidade operacional e o potencial de crescimento são os principais motores de valor, a avaliação patrimonial pode subestimar significativamente o valor de uma empresa. Empresas com modelos de negócio escaláveis ou que possuem vantagem competitiva significativa podem se beneficiar mais de abordagens que considerem o fluxo futuro de receitas e lucros, em vez de se basearem apenas no valor dos ativos existentes.
Conclusão
Conforme vimos, a avaliação patrimonial é ideal para determinar o valor dos ativos tangíveis de uma empresa, sendo especialmente relevante em cenários de incerteza econômica ou quando há a intenção de vender ativos mais específicos.
Em alguns cenários, a metodologia pode fazer mais sentido do que outros métodos, conforme vimos anteriormente, especialmente quando a empresa não possui boas margens de lucratividade ou perspectivas futuras.
Apesar disso, essa abordagem pode não capturar o potencial de crescimento ou o valor dos ativos intangíveis. O ideal é utilizá-la em conjunto com outras metodologias de valuation para obter um melhor entendimento sobre o valor real da empresa.
Cofundador Valutech, especialista em valuation e entusiasta em programação.
Certificado em Advanced Valuation (ministrado por Aswath Damodaran) pela New York University (NYU), Certificado em Valuation (Avaliação de Empresas) e Análise de Investimentos pela PUCRS, Certificado em International Business e Business Administration pela Universidade da Califórnia, Irvine (UCI) e Bacharel em Administração de Empresas (Linha de Formação em Tecnologia da Informação), PUCRS.