Você já ouviu falar sobre o termo PPA (Purchase Price Allocation)? Trata-se de um processo usado em transações comerciais, especialmente na compra e venda de empresas. O PPA ajuda a definir o valor dos ativos e passivos de uma empresa adquirida, separando cada componente para entender melhor o que está sendo comprado.
Esse procedimento é importante para garantir que todas as partes da transação estejam claras e bem documentadas, ajudando tanto compradores quanto vendedores a tomar decisões informadas. Vamos explorar como o PPA funciona e por que ele é utilizado nas transações comerciais.
O que é PPA?
O PPA, ou Purchase Price Allocation, é um processo utilizado para atribuir valores específicos aos ativos e passivos de uma empresa adquirida durante uma transação. Quando uma empresa compra outra, o preço total pago não é simplesmente registrado como um único valor.
Em vez disso, é dividido entre os diversos ativos tangíveis e intangíves (como equipamentos, imóveis, patentes, marca), goodwill e passivos (como dívidas, obrigações) da empresa adquirida.
As normas contábeis atualmente aceitas, como as International Financial Reporting Standards (IFRS), exigem a utilização do método de alocação do preço de compra (PPA) para qualquer tipo combinação de negócios, incluindo tanto fusões quanto aquisições.
Antigamente as normas contábeis exigiam apenas a alocação do preço de compra apenas em casos de aquisições.
Quando o PPA é necessário no Brasil?
De acordo com o CPC 15, é necessário um laudo de alocação de preço de compra (versão portuguesa de PPA – Purchase Price Allocation) toda vez que houver uma combinação de negócios: fusões, aquisições e incorporação que não estejam sob a mesma administração ou joint ventures.
E por “combinação de negócios” você pode interpretar basicamente como qualquer controle que uma empresa adquire de outra.
Componentes do PPA
É possível identificar 3 componentes básicos quando falamos em PPA:
1 – Ativos Líquidos Identificáveis
Ativos líquidos identificáveis correspondem ao valor total dos ativos de uma empresa adquirida, menos o valor total de seus passivos. Se você não sabe o que Ativos identificáveis são aqueles que possuem um valor específico em um determinado momento e cujos benefícios podem ser reconhecidos e quantificados de forma razoável.
Basicamente, os ativos líquidos identificáveis refletem o valor contábil dos ativos no balanço patrimonial da empresa adquirida. E não podemos esquecer que ativos identificáveis abrangem tanto ativos tangíveis e intangíveis.
2 – Atualizar valor contábil (Write-up)
Um ajuste positivo é um aumento no valor contábil de um ativo, realizado quando o valor de registro do ativo é inferior ao seu valor justo de mercado.
O valor do ajuste positivo é determinado quando um especialista independente em avaliação de negócios conclui a avaliação do valor justo de mercado dos ativos da empresa alvo.
3 – Goodwill
Goodwill é um ativo intangível que representa o valor pago em excesso sobre o valor justo dos ativos e passivos de uma empresa adquirida. Ele é calculado subtraindo-se o valor justo total dos ativos líquidos identificáveis da empresa adquirida do preço total pago na aquisição.
Do ponto de vista da empresa compradora, o goodwill é importante na contabilidade, pois tanto as normas americanas (GAAP) quanto as IFRS exigem que uma empresa reavalie todo o goodwill registrado pelo menos uma vez por ano e registre ajustes de impairment, se necessário.
O goodwill não é depreciado, mas pode ser amortizado ao longo do tempo.
Exemplo de PPA (Purchased Price Allocation)
Fizemos um exemplo simples e prático abaixo para explicar melhor:
A Empresa X adquiriu recentemente a Empresa Y por R$ 12 bilhões. Após a conclusão do negócio, a Empresa X, pois é a empresa compradora, deve realizar a alocação do preço de compra (PPA) de acordo com as normas contábeis vigentes.
O valor contábil dos ativos da Empresa Y é de R$ 8 bilhões, enquanto o valor contábil de seus passivos é de R$ 5 bilhões. Portanto, o valor dos ativos líquidos identificáveis da Empresa Y é de R$ 3 bilhões.
A avaliação realizada por um especialista independente em avaliação de empresas determinou que o valor justo dos ativos e passivos da Empresa Y é de R$ 9 bilhões. Isso implica que a Empresa X deve reconhecer um ajuste positivo de R$6 bilhões (R$ 9 bilhões – R$ 3 bilhões) para ajustar o valor contábil dos ativos ao seu valor justo de mercado.
Por fim, a Empresa X deve registrar o goodwill, já que o preço efetivamente pago pela aquisição (R$12 bilhões) excede a soma dos ativos líquidos identificáveis e o ajuste positivo (R$3 bilhões + R$6 bilhões = R$9 bilhões).
Portanto, a Empresa X deve reconhecer R$3 bilhões (R$12 bilhões – R$9 bilhões) como goodwill.
Desafios e considerações na implementação do PPA
A implementação do Purchase Price Allocation (PPA) é um processo complexo que envolve diversas etapas e considerações. Durante essa fase, as empresas precisam enfrentar e superar vários obstáculos para garantir que a alocação do preço de compra seja realizada de forma precisa e conforme as normas contábeis.
Além disso, é importante adotar práticas eficazes para minimizar riscos e assegurar que o processo seja concluído de maneira eficiente. A seguir, discutiremos os desafios comuns enfrentados durante a implementação do PPA e apresentaremos algumas dicas e melhores práticas para lidar com essas questões.
Desafios comuns
A implementação do PPA pode apresentar vários desafios. Um dos principais é a correta identificação e valoração dos ativos e passivos, especialmente os intangíveis, que podem ser difíceis de quantificar com precisão.
Além disso, as mudanças frequentes nas normas contábeis e a necessidade de conformidade regulatória podem complicar o processo. Outro desafio é a obtenção de avaliações imparciais e precisas, o que muitas vezes requer a contratação de especialistas externos.
Por fim, o processo pode ser demorado, custoso e exigir a coordenação entre diversas equipes e departamentos da empresa.
Dicas e melhores práticas
Para superar esses desafios, é recomendável seguir algumas práticas. Primeiramente, planeje com antecedência e estabeleça um cronograma claro para a realização do PPA. Utilize profissionais experientes e, se necessário, contrate consultores especializados para auxiliar na avaliação dos ativos e passivos.
Mantenha uma comunicação clara e contínua entre todas as partes envolvidas para garantir que todos estejam alinhados e informados sobre o progresso. Além disso, esteja sempre atualizado sobre as mudanças nas normas contábeis e regulatórias para assegurar a conformidade. Por fim, documente todo o processo de forma detalhada para facilitar futuras auditorias e revisões.
Conclusão
O PPA é um processo que visa garantir a transparência e a precisão nas transações de fusões e aquisições. Entender e aplicar corretamente o PPA permite que empresas adquirentes obtenham uma visão clara dos valores envolvidos, proporcionando uma base sólida para decisões estratégicas e financeiras.
Apesar dos desafios que a implementação do PPA pode apresentar, seguir práticas eficazes e contar com profissionais experientes pode facilitar o processo e assegurar a conformidade com as normas contábeis.
Cofundador Valutech, especialista em valuation e entusiasta em programação.
Certificado em Advanced Valuation (ministrado por Aswath Damodaran) pela New York University (NYU), Certificado em Valuation (Avaliação de Empresas) e Análise de Investimentos pela PUCRS, Certificado em International Business e Business Administration pela Universidade da Califórnia, Irvine (UCI) e Bacharel em Administração de Empresas (Linha de Formação em Tecnologia da Informação), PUCRS.